segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O ambiente para a inovação no agronegócio brasileiro


Lembro muito bem que há não muitos anos a indústria era considerada o setor avançado da economia e a agricultura um símbolo de atraso. A indústria era a tecnologia e a agricultura o empírico. Enquanto continuássemos um país agrícola estaríamos fadados ao subdesenvolvimento e somente com a atração de indústrias teríamos progresso. De nada adiantava argumentar que os Estados Unidos tiveram seu enorme crescimento lastreado em uma agricultura altamente produtiva, vindo, em paralelo, uma forte indústria. 

Hoje, quando vemos que quase 30% de nosso PIB provêm do agronegócio e que nossa balança de pagamentos ficou positiva por muitos anos graças às exportações de produtos oriundos do campo, a equação já começa a mudar o a antiga “roça” virou agronegócio. A soja, antes confinada aos climas temperados, migrou, graças ao trabalho dos pesquisadores da Embrapa e de outros órgãos de pesquisa, para o cerrado brasileiro, zona tipicamente tropical, atingindo produtividades de embasbacar o mundo. Foi pura tecnologia desenvolvida por brasileiros, aplicada no campo por agricultores brasileiros que viraram a página do “jeca Tatu” ou do coronel atrasadão que só se preocupava em comprar hectares e mais hectares para formar latifúndios improdutivos. 

Toda uma tecnologia começou a ser gerada, quer na agricultura, quer na pecuária e nossos níveis de produtividade passaram a bater recordes atrás de recordes. De 1.500 kg/ha de soja, pulamos para 3.000 kg/ha, e continuamos aumentando este patamar ano após ano. De uma agricultura de enxada, passamos para tratores com ar condicionado, equipados com GPS para se poder implantar uma agricultura de precisão. A cana de açúcar, antes símbolo de uma agricultura atrasada, antiquada, passou também a abismar o mundo com sua elevada produtividade. Todas as culturas passaram por este processo de aumentos de kg por área cultivada e a comparação das curvas de crescimento da produção com o aumento da área plantada mostram com enorme clareza que nosso crescimento na produção agrícola se deve à assimilação, por parte do agricultor, das tecnologias geradas pela pesquisa.

 Na pecuária tivemos quadro semelhante. De uma cabeça de gado bovino por dois ou três hectares, hoje se pode colocar cerca de três cabeças por hectare. A produção de frangos se tornou modelo mundial de produtividade, bem como de geração de renda para uma enorme população de pequenos agricultores e suas famílias. O leite também é um caso digno de registro. Até há alguns anos importávamos leite de paises como Holanda, Dinamarca e Polônia, países de pequena área territorial, que cabem folgadamente em apenas um estado brasileiro. Hoje, mediante um trabalho que conjugou genética com alimentação, manejo e tratamento prévio do leite na própria fazenda, o Brasil é um exportador de leite. O setor “após a porteira”, ou seja, a manufatura dos produtos agrícolas também passou por grandes saltos e hoje o Brasil conta com várias empresas de nível mundial, aptas a exportar carnes e outros alimentos industrializados para países europeus, asiáticos e para o Oriente Médio. 

Mas o que levou a esta enorme mudança, a esta geração e implantação de inovações pelo agronegócio brasileiro? A geração de tecnologias foi um trabalho da pesquisa, capitaneada pela Embrapa, a Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias, criada na década de 70 do séc. XX, que se constituiu em um marco decisivo para a arrancada do Brasil no setor. Mas não se pode esquecer que o perfil do agricultor e do pecuarista brasileiro também mudou para melhor. Sentindo a necessidade de produzir mais e melhor, as novidades foram sendo assimiladas pela conjugação de fatores internos e externos. A comida barata produzida com subsídios nos países europeus, entrava aqui competindo com preços menores que nossa produção, colocando em risco todos os agricultores, que poderiam perder suas colheitas ou ter que vendê-las a preços abaixo do custo. Foi esta competição saudável com os produtos estrangeiros que levou o agricultor e o pecuarista brasileiro a elevar seu grau de competitividade, a largar as práticas antiquadas e adotar as novas tecnologias. O mesmo aconteceu com vários outros ramos da atividade econômica, que evoluíram no momento em que cessaram as políticas protecionistas do governo. Muita gente, sem capacidade ou vontade de se adaptar às novas tecnologias caiu pelo caminho, mas isto faz parte do jogo e os mais competentes não só sobreviveram como cresceram no ambiente mais competitivo. 

Há entraves a um crescimento mais rápido e a uma maior velocidade na adoção das inovações, pois temos dubiedades na condução de algumas políticas. O caso da adoção dos transgênicos, o futuro para o aumento da competitividade de nossa agricultura, continua com uma política dúbia até mesmo por parte do governo: enquanto alguns ministros mais afinados com a modernidade se posicionam claramente a favor das pesquisas e do uso comercial de organismos geneticamente modificados, outros colocam mil e um obstáculos visando manter nosso atraso relativo a outros países. Infelizmente alguns setores super atrasados, semelhantes aos que resistiam à vacinação contra a febre amarela no início do séc. XX, se posicionam de forma radical e totalitária contra os transgênicos, usando até mesmo técnicas de banditismo para impedir o progresso da agricultura.

 Mas até hoje ninguém conseguiu barrar o progresso científico, a adoção de inovações pela humanidade. E tenho certeza que o agronegócio brasileiro contará com o esclarecimento de seus agricultores e pecuaristas para continuar em sua trilha de progresso.

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