segunda-feira, 11 de junho de 2012

Breve história do empreendedorismo digital no país

Nesta semana, dei uma festa para comemorar o empreendedorismo digital no Brasil. A desculpa seria a festa do BizSpark, programa da Microsoft para apoiar esse tipo de empreendedores, oferecendo software, suporte, visibilidade e oportunidade de negócios. Mas, enquanto eu fazia o roteiro da festa, descobri que as duas histórias eram indissociáveis. Não tinha como falar dos três anos de BizSpark sem citar a mudança drástica e para melhor sofrida pelo ecossistema local durante esse mesmo período. Enquanto um programa global era lançado no Brasil, motivo que me levou para a Microsoft, os empreendedores perderam o medo do mundo, dos investidores estrangeiros e de exporem suas ideias.

Início
Quando aprovava as primeiras empresas no programa, no final de 2008 e início de 2009, ficava surpresa com a falta de foco. Todas estavam prontas para fazer qualquer coisa, se definiam como fábrica de software, produtoras de website e implantadoras de CRM. Em resumo, era o cliente ou o edital da Finep quem determinava o core business dessas empresas. Hoje, tenho aprovado muitos projetos de social business, mobilidade, alguns copycats (cópia de ideias, empresas de sucesso lá fora). As empresas B2B, em sua maioria, estão em incubadoras. As de social business em aceleradoras. Não é regra, mas uma tendência.
Nesse início do BizSpark, conheci o Michael Nicklas, investidor anjo super gente boa, que fez algumas apostas no país, entre elas o blog Startupi, uma espécie de versão local do TechCrunch. Diego continua editor do Startupi, um dos conectores mais influentes da cena. Michael Nicklas foi convidado para reformular o ideasnet e mudou com a Ona Kiser para o Rio. Em tempo, a Ona é responsável pelo Brazilian Startups English Digest.

A onda de competições
Ainda em 2009, com o querido Pierre Schurmman e o Diego Bagini, da Astella Investimentos, a gente tentou lançar (sem sucesso), o premio Garagem, uma competição para startups que tinha como premissa rodar em várias cidades do país. Hoje, reconheço que minha obsessão em ser um prêmio nacional foi um dos motivos de não termos conseguido lançar o Garagem. Ficou a amizade, horas de conversas e boas risadas.
Devido ao meu fracasso, resolvi apoiar firmemente o Desafio Brasil (Intel e FGV) para expandir a competição até as cidades nas quais temos Centros de Inovação Microsoft. Márcio Filho, hoje na Inseed, rodou as cidades e organizou os eventos locais com apoio dos coordenadores dos MICs. Minha insistência em levar oportunidade para todo o país tem uma razão. Não sou globtrotter como muitos investidores. Já dei minhas viajadas e tenho conexões lá fora. No entanto, conheço bem o ambiente de empreendedorismo em várias cidades por conta do meu envolvimento com a Anprotec, Porto Digital, Finep, ABDI. Eu tive a oportunidade de participar de vários pilotos de projetos estruturantes nessa área de empreendedorismo, como o Juro Zero e políticas públicas para o setor. Alguns desses projetos, para minha surpresa, estão sendo paridos em 2012. A razão é simplesmente a diferença entre tempo público e tempo privado.

Venda do Buscapé
Quando o BizSpark tinha aproximadamente 800 startups, o Buscapé foi vendido. Considero esse um marco para os empreendedores digitais. Acho que eles entenderam que poderia ser com eles também, por que não? O engraçado é que esse é o segundo momento do empreendedorismo digital no país. Quem sabe o que é um pager vai lembrar bem das startups e dos empreendedores de sucesso do pré-bolha, não é mesmo, Bob Wolheim? Só para constar, o Bob é múltiplo e agita a cena com startups com o percussor ResultsOn, Appies, YouPix.
Quando lançamos o BizSpark, a Anprotec e o Cietec eram o coração do programa. Meu envolvimento com eles vem de outra época e reconheço o valor das incubadoras. As startups resolveram criar em 2012 a sua associação de startups. É importante se associar, e a Anprotec, a Sucesso e a Assespro sabem disso faz tempo. Conversem, pessoal, pois ainda precisamos de políticas públicas estruturantes como a que desonera o investimento anjo no país e diminui o risco para eles.

Incubadora x Aceleradora
Acompanhei o crescimento do Cietec, que já passa das 150 empresas. Somente em ambientes organizados e com o devido suporte é possível inovar para a indústria. E o Cietec, assim como a Celta, de Florianópolis, trafega muito bem nesse cenário, sem esquecer as digitais. Sérgio Risola e Franco Lazzuri não sabem disso, mas são responsáveis por uma mudança estratégica na direção do programa. Decidimos sair do escritório e dar consultoria in loco para as startups do Cietec, em um piloto rodado neste ano. Como time técnico e de negócios, ficamos disponíveis para dar mentoria para as empresas do Cietec.
O resultado para empresas como Recursos Hídricos, Kompass, Op2B, entre outras, foi positivo. Não tem preço saber que você pode ajudar uma pequena empresa a crescer. E por isso vamos repetir a iniciativa na 21212, aceleradora do Rio de Janeiro que foi responsável por outro marco no empreendedorismo do país. Montou um dos melhores Demo Days que já tivemos. Esse evento ocorrido em março deixou investidores, empreendedores, influenciadores muito felizes porque preparou o pitch de forma profissional. Rafael Duton (Movile), Marcelo Sales, Frederico Lacerda já podem falar do sucesso de suas startups (entre algumas Simpply, Resolve Aí, pagoPop, Bloompa etc).

Encontros de 2011
Os meetups se tornaram a praça, o lugar de encontro dos investidores e empreendedores. Abrimos a casa da Microsoft para receber a Bedy, o Flavio, o Renato, o In e o Marco. Eles são responsáveis por outro marco importante, o BRNewTech. Provaram através de presença que existe muita gente precisando apenas de um empurrãozinho para começar. Vi esse projeto nascer em São Francisco, com a visita organizada pela Bedy de vários empreendedores. Passamos a noite de Halloween juntos, e fico muito feliz de ver o sucesso de todos: Bedy (500Startups), Flávio e Renato (Fashion.me), In (Baby.com) e o Marco com o Descomplica. Todos esses empreendedores são também empresas do BizSpark e me ajudaram a contar a história do programa por meio do sucesso deles, durante a nossa festa. Obrigada!
Já que estamos relembrando os eventos, além dos Startup Weekends (Yuri Gitahy, Marina Miranda, Diego Remus, Ludimilla Figueiredo, vários times locais), a Campus Party também criou seu momentum com o apoio do BizSpark e o Desafio da Telefônica. Ganhou uma startup do Recife que, para minha felicidade, tinha entre os sócios um ex-bolsista do Centro de Inovação Microsoft. Entreguei um prêmio para o Amure Pinho, ganhador do SPBeta com a Crossfy, sua segunda startup. E, ainda nesse mesmo evento, o Buscapé lançou a campanha Sua Ideia Vale 1 Milhão. Vale também o registro de que a Wayra estava se estruturando para abrir no Brasil e selecionar as primeiras startups.

Eventos regionais
Em 2012, a explosão de eventos novos e a força dos antigos trouxe maturidade ao ecossistema. Yuri Gitahy, fundador da primeira @celeradora do país, faz um belo trabalho de educação com o BizModelDay. Felipe Matos está na quinta edição do StartupFarm, mudando o rumo de empresas e empreendedores durante uma imersão de um mês. O time de mentores desse projeto é o grande diferencial.

Eventos mundiais
Pedro Sorrentino, Juliana Lima e Gustavo Goldenberg fizeram a primeira edição do SPBeta com sucesso. Marina Miranda está mandando muito bem com a segunda edição da Conferencia Crowdwourcing. O BizSpark apoiou todas essas iniciativas, patrocinou várias delas e hoje tem 1.997 startups no programa, apenas no Brasil. Uma história de final feliz que vai continuar no próximo post, quando pretendo abordar o crescimento da cena local (Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife etc.) e os fundos estrangeiros que chegaram ao país.


Por 
 
 
Silvia Valadares é jornalista. Há três anos na Microsoft, é gerente de relacionamento com a comunidade de startups e ajuda empreendedores a transformar sonhos em estratégia de mercado.


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