segunda-feira, 30 de abril de 2012

Os negócios sociais representam o futuro do empreendedorismo

No Brasil e no mundo, cresce o interesse de investidores por empresas que combatem a pobreza e outras mazelas com soluções eficientes e lucrativas

Renato Kiyama*
renato@artemisia.ong.br 
 
Editora Globo
Ao longo da história, o enfrentamento de problemas sociais tem sido delegado aos governos, às organizações sociais e às ações filantrópicas. Hoje, porém, observa-se um fenômeno mundial: empreendedores fazendo uso da criatividade para desenvolver soluções lucrativas para os problemas causados pela pobreza global. Esse fenômeno não só atrai o interesse de investidores, executivos e estudiosos, como abre uma janela de oportunidades para aqueles que desejam se aventurar numa carreira antes impensável: a de empreendedor social.

O movimento se baseia na premissa de que as empresas podem ter uma relevância ainda maior para a sociedade, desenvolvendo modelos de negócios que ofertem produtos e serviços acessíveis, a fim de satisfazer às necessidades não atendidas dos 4 bilhões de pobres no mundo. O valor social seria gerado a partir da diminuição da “multa da pobreza” — pessoas de baixa renda, sem acesso ao mercado formal, obrigadas a pagar mais por produtos e serviços de baixa qualidade. O economista indiano Amartya Sen, prêmio Nobel em 1998, afirmou que o verdadeiro desenvolvimento consiste em eliminar as privações que limitam as oportunidades para que as pessoas exerçam sua condição de cidadãs. Essa perspectiva muda a maneira como encaramos a pobreza: em vez de partir para uma visão assistencialista de falta de renda, devemos nos concentrar na ampliação das oportunidades de escolha do indivíduo.

Editora Globo
APOIO PARA A BASE | A partir deste ano, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) passou a investir US$100 milhões por ano em empresas que oferecem soluções para trazer benefícios e qualidade de vida a pessoas que estão na base da pirâmide econômica em países da América Latina e no Caribe
 
Durante 20 anos, acreditou-se que as multinacionais seriam as únicas organizações com competência e recursos para oferecer produtos de maior qualidade e baixo custo para a camada mais pobre. A crença baseava-se, em parte, nos ensinamentos de gurus como C.K. Prahalad e Stuart Hart, especialistas mundiais em negócios para a chamada base da pirâmide. Hoje, no entanto, sabe-se que são as pequenas empresas que detêm o conhecimento e a agilidade para desenvolver inovações para as populações de baixa renda. Casos de sucesso, como os do Grameen Bank, Aravind Eye Care e M-Pesa foram desenvolvidos a partir do trabalho pioneiro de empreendedores perspicazes. A busca por soluções saiu dos departamentos de inovação das multinacionais e passou para as mãos de milhares de empreendedores criativos.

Hoje, um bom empreendedor social tem à sua disposição mais possibilidades. Um relatório elaborado pelo JP Morgan em 2010 estima um potencial de investimentos da ordem de US$ 1 trilhão e oportunidades de lucros de até US$ 667 bilhões durante a próxima década para negócios destinados à população pobre nos setores de saúde, educação, moradia, saneamento e serviços financeiros.

No Brasil, o cenário promete. A população das classes C, D e E, avançou em renda e consumo. Mas ainda há problemas crônicos a serem superados. Dados sobre saúde mostram que 15% da população urbana e mais de 70% da rural não têm instalações sanitárias adequadas e 75% das pessoas dependem exclusivamente do SUS. Apenas 23% da população adulta completou o ensino médio. Este ambiente de economia fortalecida e problemas a serem resolvidos, somado à massa crítica de pessoas talentosas do país, sugere uma perspectiva otimista para o cenário de negócios de alto impacto social.

*Renato Kiyama é coordenador da Aceleradora de Impacto da Artemisia
 

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